A
certa altura, num livro, leio Esta é uma opinião com a qual concordamos
menos agora do que em tempos concordámos. Fico a meditar a frase, pois
também eu reconheço que há opiniões com as quais concordo menos no presente do
que concordei no passado. Há opiniões a que dava o meu pleno assentimento e,
hoje, parecem-me repelentes. O inverso também é verdade. Poderia dizer, não
poucas vezes, esta é uma opinião com a qual concordo mais agora do que em
tempos concordei. Uma das hipóteses é que eu não seja aquele que no passado
tinha opiniões tão diferentes. Eu não me arrependo das minhas opiniões do
passado, mas torno-me outro. Tornar-se outro é uma mudança bem mais radical do
que o arrependimento ou contrição. Quem se arrepende ou faz um acto de
contrição, permanece ainda o mesmo, tomado pelo remorso, seja moral ou
cognitivo. Quem se torna outro faz uma mudança ontológica, muda de natureza.
Quando o Marquês de Gualdrasco e Villareggio, de nome Cesare Beccaria, escreve
o seu famoso tratado Dos delitos e das penas, publicado em 1764, pensa
que a função da pena é, também, reabilitar o infractor. Há uma crença na
regeneração de uma bondade original que o delito teria posto em causa. A pena
serve para restabelecer uma conexão com um passado. O importante seria, porém,
que o delituoso se tornasse outro, que deixasse de ser quem era e se tornasse
outro, alguém para quem cometer um delito seria inaceitável. Está, por aqui, um
típico dia de Junho, daqueles que prometem uma pequena tempestade, mas que não
cumpre. Nem sempre é assim. Por vezes, dá direito a queda de granizo, o que deixa
um rasto de desgraça pelos campos. Nesse caso, é um Junho delituoso.
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