Uns dias fora para descansar da realidade, a qual, como se sabe, é particularmente cansativa. Fora talvez não seja a palavra apropriada, pois é difícil sentir-se no estrangeiro quando se está na Galiza. Esta é o prolongamento natural de Portugal, ou este é o prolongamento natural da Galiza. Ali, sempre me senti em casa, talvez mais em casa do que aqui onde é a minha casa. Tanto quanto sei, não há notícia de galegos na ascendência, mas a informação só chega a umas seis ou sete gerações para trás, e o mais plausível é todos termos ascendentes galegos, nem que seja do início da nacionalidade. Saí de lá com temperaturas na ordem dos vinte e dois graus e cheguei aqui quase com trinta. Ontem, em Pontevedra, vi pessoas de cachecol, talvez sofressem da garganta, pensei, ou então são um pouco teatrais. Não estava calor, mas nada justificava certos trajos de Inverno que anotei na memória. Hoje, ao sair do hotel, o empregado da recepção, ao ver que éramos portugueses, não hesitou em tecer um louvor rasgado à língua portuguesa, que ele conhecia muito bem. Percebi que também é tradutor. Disse que, para ele, a língua portuguesa é muito mais espiritual do que o castelhano, tem uma plasticidade muito maior e que o jogo linguístico português, com o sugerido mas não dito, é impossível de traduzir para o castelhano, língua a que falta a ductilidade da portuguesa. Ali, porém, não estávamos em Castela, nem em Leão, nem em Aragão. Ali, portugueses e galegos entendem-se, como irmãos que não se vêem há algum tempo, mas que sabem muitas coisas um do outro e basta uma sugestão para o outro saber do que se está a falar. Agora, vou descansar destes dias de descanso.
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