Estou extasiado e radiante. Foi descoberto um exo-planeta, apenas a 48 anos-luz da Terra, que poderá ter não apenas atmosfera como água líquida. Eis um motivo para o meu êxtase e para a minha radicação. Cansado da má gestão do nosso planeta, tenho agora a oportunidade de ir para outro, ali ao virar da esquina. O que são, se não me enganei nas contas, 454 118 400 000 000 km? Nada. Enquanto uns imigram para a Suíça, para França ou, os mais temerários, para os EUA, eu, montado no meu Rocinante, imigro para o LHS 1140b. Ainda hei-de lá chegar bem a tempo de procurar ocupação e reinventar-me numa nova condição. O meu problema é que não sei o que hei-de levar para a viagem. Haverá, no caminho, restaurantes de beira de estrada? Encontrarei shoppings para comprar roupas, caso rasgue umas calças ou uma camisa? E farmácias haverá? Peço umas receitas aos diversos médicos que frequento, a contragosto, diga-se, e vou-me abastecendo ao longo do trajecto. Levo a família ou vou sozinho, como um batedor? São estes pequenos problemas que ainda me prendem a esta Terra, mas, tenho essa expectativa, acabarei por os resolver, pois um herói resolve não apenas os problemas dos outros, os mais fáceis, mas também os seus, os mais intrincados. Dizer Adeus, ó Terra que o LHS 1140b espera-me é a esperança que me move. O pior é o Flexiban. Dá-me uma soneira diabólica. Posso estar a dormir na estação de saída e ir parar ao centro da Via Láctea e ser deglutido por algum buraco negro.
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