É bem anterior aos gregos a ideia de que o destino dos heróis é decidido em concílio dos deuses. A grandeza de um herói não está na sua capacidade de moldar um destino, de dobrar o mundo às suas decisões, mas em cumprir e suportar um destino – por norma, adverso – que lhe é imposto. Isto para nós, homens modernos, é estranho, pois concebemos a grandeza fundada no livre-arbítrio e no poder de realizar aquilo que decidimos. Talvez por isso, um herói moderno, como D. Quixote, seja, na verdade, ridículo, ou destituído de qualidades, como Ulrich, do romance de Musil. A grandeza humana é, para o homem pré-moderno, não humana. O que os homens são, não são ou deixam de ser é-lhes dado pela decisão dos deuses. Resta saber, todavia, se essa decisão é livre ou fruto de um acaso que acaba por determinar os humores dos deuses quando se sentam para deliberar destinos humanos e, por certo, entregarem-se à bebida.
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