Lembrei-me das minhas avós, como elas eram no tempo em que descobri que existiam avós. Não foi, na verdade, uma descoberta. Elas estavam lá, quando nasci, no lugar que era o delas, com as suas especificidades, as suas diferenças, os seus olhares sobre o mundo. Lembrei-me delas ao ler um poema do poeta polaco Zbignew Herbert, com o título Avó. Herbert escreve sobre o que ela lhe contava e, fundamentalmente, o que lhe ocultou, o massacre dos arménios pelos turcos, para o poupar na sua infância, para lhe conceder vários anos de ilusão, sabendo que ele um dia o descobriria. Pergunto-me o que me terão ocultado as minhas avós, na esperança de que eu o haveria de descobrir. Talvez não existisse nada a ocultar. Ou talvez houvesse, mas o meu talento para a descoberta fosse e seja diminuto.
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