Nas suas reflexões sobre a obra de arte, o escrito austríaco Arthur Schnitzler, escreve, no aforismo 78, de “Obra e Repercussão” (in Livros dos Provérbios e das Reflexões): A primeira pergunta do crítico deveria ser: Tu, obra, o que tens para me dizer? Mas, regra geral, isso pouco lhe importa. O seu primeiro impulso é antes: Agora, obra, presta atenção ao que tenho para te dizer! Uma experiência quotidiana mostra que esta atitude do crítico de arte se enraíza numa inclinação mais geral que há nos seres humanos. Raramente numa conversa, os interlocutores se prestam a escutar o que os outros têm para dizer. Seguem a divisa: Presta atenção ao que tenho para dizer. Se supusermos um observador não humano, mas dotado de razão, facilmente podemos imaginar a sua perplexidade perante a utilidade da conversação entre os seres da nossa espécie. Se esse ser for suficientemente perspicaz, porém, descobrirá que esses monólogos conjuntos dão um prazer aos interlocutores. Não o da intercomunicação e da partilha, mas o de cada um se ouvir a si mesmo, perante testemunhas. O testemunho dos outros é a prova de que falei para mim mesmo, claro, mas que consegui articular palavras e frases. Uma conversa em grupo é fecunda, não pela partilha de ideias, mas pela expansão do universo de testemunhas que podem provar, caso um tribunal as convoque, que cada eu fui capaz de falar comigo mesmo. A dura disciplina da escuta, se alguma vez foi praticada pela humanidade, há muito caiu em desuso, afectada pela má imprensa e por uma pedagogia social fundada no inexorável direito à palavra.
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