Há pouco, perto de mim, alguém dizia que, na ausência de
chuva, houvesse frio. Ao menos, matava-se a bicharada nos campos, o que ajudaria
a lavoura. E eu fiquei espantado com esta sabedoria que me era servida
inadvertidamente. Para mim o frio é apenas ocasião de vestir uma roupa mais quente
e não uma arma de guerra biológica. E foi assim que enfrentei, na rua, a
frialdade com que a noite tomou conta do dia. Imaginei então campos onde mil
hecatombes de pequenos seres é oficiada pela descida das temperaturas. Se eu
fosse um homem do campo, que coisas não haveria de saber e de transmitir aos
outros. Coisas úteis, sérias, profundas, onde se joga a vida e a morte, e não
frivolidades sobre se o homem possui livre-arbítrio ou se devemos determinar a
moralidade dos nossos actos pelo imperativo categórico ou pelo princípio de
utilidade. Em vez de papéis e gente aborrecida à minha frente, haveria campos
de milho e de trigo, talvez um roseiral de onde colheria as rosas que alguém
espera de mim.