Oiço alguém a fazer uns estranho sons. Depreendo que esteja a falar para um bebé, pelo tom que toma ao arremedar sons que bebé algum se dignaria produzir. A criança, todavia, parece resistir à toada que sobre ela é disparada, pois mantém-se silenciosa. Imagino-a a ostentar no pequeno rosto altivez e a olhar de viés para as momices com que tentam comprá-la. Enquanto observo o céu, o silêncio desce sobre a insipidez do dia. Por vezes, o sol brilha, mas o entusiasmo desse seu sorriso é escasso. No céu, as nuvens passam devagar, traindo na sua caminhada o cansaço que as anima. Como elas, também eu estou cansado. Pego num livro, mas não encontro sentido ou prazer na sua leitura. Fecho-o e espero que o tempo passe. A algaravia volta aos meus ouvidos, mas a criança é inexorável e não abre a boca. Agora, oiço na rua uns adolescentes a imitar um rapper, mas logo desistem da aventura e calam as vozes à falta ritmo e de sentimento. O destino de todas as palavras é desaguar no oceano da mudez. Também eu, penso, devia emudecer.
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