Banhada em serenidade, a manhã corre vagarosa para o meio-dia. A luz do sol faz-me lembrar Páscoas longínquas, com almoços ao ar livre sob uma latada, se o tempo, como hoje, estava quente. Naqueles dias, de tão novo, não sabia que tudo era efémero e que aqueles instantes, apesar da alegre exuberância que os habitava, estavam tocados pelo punhal de vidro da morte. Guardo-os no porão da memória, para os usar uma vez por outra como consolação pelas perdas que os anos me fizeram acumular. Daqui a pouco a casa fervilhará. Filhos e netos acumularão as suas memórias para as usar um dia quando eu já não estiver entre eles. E nisto vejo não uma maldição mas o exercício misericordioso de uma justiça nascida no começo dos tempos.
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