terça-feira, 2 de abril de 2019

Improbabilidades

Num dos livros que comprei num alfarrabista encontrei um daqueles papéis que os bancos enviam aos seus incautos clientes com o código secreto pessoal de um cartão multibanco, presumo. Pela coloração do papel, esse cartão já deve ter sido desactivado há muito. Tudo isto é irrelevante, como todas as coisas sobre as quais escrevo, mas não deixa de haver um fascínio nessa tira envelhecida de papel. O código tem a extraordinária sequência de algarismos 1234. Ao vê-la fiquei a pensar que essa sequência é tão improvável como qualquer outra. E perdido nestas divagações sobre improbabilidades ocorreu-me que, provavelmente, o dono do cartão já terá morrido e que os herdeiros lhe terão vendido os livros. Na verdade, nem uma sequência improvável nos livra da morte. Depois de uma breve hesitação, tornei a colocar o papel entre as páginas do livro, para que um futuro proprietário o encontre e tenha um motivo para escrever sobre improbabilidades e outras coisas inúteis com que, à falta de melhor, preencho a vida. Como eu, o dia declina para se esconder no esconso desvão da noite.

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