Só hoje dei por Julho ter chegado. Sabia que o calendário
indicava que estávamos em Julho, mas este ainda não se apresentara diante de
mim, mostrando-me credenciais e comprovativo de existência. Esta frase fez-me
lembrar uma peculiaridade da burocracia nacional, a certidão de nascimento. Apresento-me,
identifico-me com o bilhete de identidade, mas alguém diz: prove que nasceu. É
um exercício difícil provar que se nasceu. Vale-nos a certidão. Também Julho apresentou
a sua certidão de nascimento. Isto não torna as coisas mais fáceis. Pelo
contrário. Há pouco peguei num livro onde um filósofo actual me informa que “jamais
poderemos ter a esperança de tornar as nossas palavras perfeitamente precisas”. As pessoas esperam pouca coisa, pensei. A
minha esperança é que as palavras se tornem perfeitamente imprecisas. Assim ao
dizermos uma coisa, o leitor suspeita que estamos a dizer outra e isso
parece-me muito consolador. Acabariam os mal-entendidos. Olho o céu, e uns
cirros mancham a pureza do azul. Cá em baixo, na terra, os homens apressam-se
pela avenida. Temem chegar tarde ao comboio que os há-de levar a Agosto.
Fez-me rir com essa da certiďão de nascimento: é mesmo assim. E já tive o momento saudável do dia.
ResponderEliminarMas ontem o Julho apresentou-se aqui com um belo e fresco nevoeiro. Pena ter-se dissipado perto das dez, foi nevoeiro de pouca dura.
Hoje já está de certidão na mão (será que mês tem mão?), o sol a rir-se, todo contente. E eu, aflita, sem saber como fugir aos três meses de inferno que aí vêm.
Quem me dera perder o comboio de Agosto...
⚘
Maria
Este ano, o inferno teima, felizmente, em não chegar. O pior é se ele apenas está a procrastinar e, chegando, fica até quase a Novembro. Seja como for, o comboio de Agosto é tão grande que não deixa passageiros para trás.
EliminarHV
Informação de última hora: o sol já se escondeu por cima de uma carapaça de nuvens cinzentas.
EliminarUmas pequenas tréguas, portanto, mas de curta duração, tenho a certeza.
Vou aproveitar :)
Maria