Estava a ler a apresentação de As Lojas de Canela, de Bruno Schulz, feita por Aníbal Fernandes,
quando deparo com a resposta que terão dado ao escritor polaco perante a oferta
que este fez dos seus préstimos literários à revista Novos Horizontes: “Não
precisamos cá de Prousts”. O engenho da estupidez humana, apesar de tudo, nunca
deixa de ser espantoso. Uma revista literária que não quer um Proust é como uma
equipa de ciclismo que só aceite quem mal saiba andar de bicicleta. A analogia
não é brilhante, eu sei. Que coisa essa de misturar as belas letras com um
desporto popular. Foi, porém, o que me ocorreu. Se eu tivesse capacidade de
fazer analogias soberbas seria um Proust. Com esta minha falta de talento, porém,
talvez tivesse sido aceite na revista onde Schulz foi rejeitado. Não há lugar
onde um medíocre não possa entrar.
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