Se as pessoas não fossem tão susceptíveis, diria que hoje está um dia glorioso. Uma luz suave, um céu densamente nublado e, acima de tudo, sem o calor sufocante de Julho. Sento-me à secretária e faço o que tenho de fazer. Num dia como o de hoje é um exercício menos penoso, quase sou levado a crer que o que faço merece ser feito. Sei que não, mas a capacidade que o tempo me deu para me iludir parece ser um recurso inesgotável. Se não me iludisse, penso de imediato, a vida seria insuportável. A realidade é um monstro malcheiroso e a verdade tem um peso para o qual os ombros humanos não foram feitos. Isto lembrou-me aquelas pessoas que dizem sou muito frontal, digo a verdade na cara de toda a gente. Eu sou um caso perdido. Dispenso frontalidades e evito dizer a verdade sempre que posso. Não é por mal, nem por cobardia, mas por delicadeza. Por que razão hei-de submeter os outros à minha sanha de dizer verdades? A vida civilizada não é mais que um exercício prolongado de esquecimento da verdade. Será que estou a dizer a verdade ou estou, civilizadamente, a mentir? Ainda bem que as nuvens continuam firmes no seu lugar.
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