Das várias perspectivas sobre a arte, agrada-me aquelas que estabelecem analogia entre o mundo da arte e o universo. Estão ambos em expansão. Isto permite pensar que não existe uma definição de arte, uma definição onde se captaria a essência da arte, uma característica que estaria presente em todos os objectos artísticos e só neles. Não há, e isso deixa perceber que sob a ideia de arte se esconda um universo em expansão, a que se vão juntando novos e novos objectos. Isto há-de contrariar aqueles que pensam saber o que é a arte e estão sempre prontos a lançar anátemas sobre aquilo de que não gostam ou não compreendem. Seja como for, hoje é Sábado de Aleluia e talvez não seja o dia mais indicado para pensamentos destes. Segunda-feira, intuo-o, serão bem mais justificados. In illo tempore, quero dizer no tempo em que a existência de pandemias era uma coisa longínqua, um conhecimento abstracto e por ouvir dizer, a casa estaria cheia. Filhos e netos trariam uma luz suplementar a quem aqui vive. Este ano, mais uma vez, cada um estará no seu lugar, cumprindo instruções das autoridades e esperando que tudo isto se possa mandar para trás das costas. Enquanto o dia desce o declive em direcção ao oceano da noite, oiço a cantora de jazz Maria Viana, filha de um conhecido artista de revista – e pintor – José Viana. Nunca o vi actuar, pois a revista sempre me foi uma coisa estranha, mas nunca esqueci uma cantiga, Zé Cacilheiro, por ele cantada e que havia num LP lá por casa. Talvez a memória tivesse ficado presa aos versos E navegando / A idade foi chegando / O cabelo branqueando / Mas o Tejo é sempre novo. E uma súbita saudade de ver o Tejo acometeu-me, o pior é que é proibido circular entre concelhos e o rio da minha terra não é o Tejo, mas apenas um pobre afluente do rio que vindo de Espanha vai morrer ali mesmo para os lados de Lisboa. O melhor é ir comer uma amêndoa. De chocolate, que é mais metafísica das amêndoas.
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