Um acontecimento. Sentar-me numa esplanada e aí almoçar, num dia que anuncia a estiagem que há-de vir. Isto seria uma coisa trivial, mas desde há mais de um ano que o trivial passou a ser coisa de excepção. Foram estas palavras que ouvi, há pouco, ao padre Lodo. Já não falávamos há uns tempos, mas sabia-o desgostoso com as impossibilidades trazidas pelo maldito vírus. Quis saber quando iria a Lisboa, pois queria reunir o velho grupo. Para a próxima semana, espero ir, mas não estarei em situação de deambulações grupais nem visitas a restaurantes, mesmo com esplanada. Pareceu ficar decepcionado. Depois contou-me episódios deste tempo de confinamento, não sem que uma ironia fina se desprendesse das suas palavras. Comentou que noutros tempos uma pandemia haveria de fazer muitas conversões. Agora já não paga o investimento e isso prova que ela não foi enviada por Deus. É melhor procurarem o morcego. E vacinarem-se, acrescentou. Perguntei-lhe se já tinha sido inoculado, como não se cansam de repetir na comunicação social. Sim, sim. Foi com a da AstraZeneca. Não me preocupei nada, disse. Até porque já estou muito longe de ser novo, não sou mulher, nem tomei a pílula. E riu-se. O que é que a pílula tem a ver com assunto, perguntei. Não faço ideia, mas estão sempre a fazer comparações entre uma coisa e outra que pensei que talvez tivesse. Não são só os caminhos do Senhor que são insondáveis, também os dos homens e os dos vírus, sentenciou.
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