Sentei-me pela primeira vez numa esplanada. Um acontecimento. Na verdade, um acontecimento infeliz, pois estava um vento demasiado fresco e a chuva ameaçava a cada instante. Penso no interior vazio do café, e desconfio que nos metemos todos num grande sarilho e não fazemos a mínima ideia de como sair dele ou se ele tem saída. O país televisivo passou a tarde muito entretido e agora deve andar por aí a alardear opiniões inflamadas, embora as opiniões não passem de paixões da alma. Num artigo de um site há conselhos para pessoas indecisas. Podia propor ter três passos ou sete, talvez nove para acabar com a indecisão, mas não. Terão de ser cinco passos. Pensei de imediato que a precisão é a alma do negócio. Todavia, ao olhar para eles pensei que qualquer indeciso, perante para cada um daqueles milagrosos passos, ficaria indeciso se o devia dar ou não. Por isso é que é indeciso. Observo o que escrevi e dou com um erro. Nem digo qual para não ferir susceptibilidades, mas não era ortográfico. Perante os erros, vivo como como o guarda-redes antes do penalty. Com angústia pela possibilidade de deixar passar uma palavra mal escrita. Como dar erros é inevitável, substituo a angústia do erro pela sua classificação, tentando descobrir-lhe a origem. Tenho uma alma de taxinomista. A maioria dos erros são compreensíveis, bastando olhar para o teclado. Outros devem-se a certos cruzamentos das linhas cerebrais. Outros há, porém, que possuem motivação secreta. Que força estranha e inimiga me terá levado àquele erro, pergunto-me, mas não descubro. Esses são os piores. Falar sobre erros ao anoitecer de sexta-feira é tontice, mas a generalidade das coisas que me ocorrem são tontices, portanto nem estranho.
Ainda não me sentei em nenhuma esplanada nem sei quando poderei fazê-lo. Ontem e hoje, consolei-me a pensar que com chuva e trovoada talvez não fosse muito agradável.
ResponderEliminarAo almoço lembrei-me dos jogos da Selecção: metade do écran com uns senhores comentadores, a outra metade com um carro a ser perseguido por motards das têvês; todavia o tema não era o futebol.
Embora fosse uma variante às 'vaksinas' e etc., resolvi desligar.
Caça ao erro ou à gralha?
Vou arriscar, com uma certa angústia:
'perante para' ou 'como como'?
Boa noite, HV.
🌌
As televisões tornam tudo em telenovela e paixão futebolística. A ideia, parece-me, é transformar um povo num bando de hooligans. Temo que o consigam. Quanto ao erro, é um erro trivial, que muita gente dá. Trata-se de ter escrito concelhos em vez de conselhos. Há, contudo, uma estranha razão histórica para este erro, para além da homofonia. Em latim, de onde são originadas segundo vi, existem já ambas as palavas (consiliu e conciliu), mas significam o mesmo, assembleia. Embora, consiliu também signifique deliberação ou lugar onde se delibera, e conciliu signifique convocação. As palavras são como às cerejas.
EliminarUm bom dia, Maria
HV