domingo, 4 de abril de 2021

Mãe e mãiiii

No parque infantil, as crianças continuam a correr e a gritar. Uma chama pela mãe, prolongando desmesuradamente um i final, como se uma mãe fosse, de facto, uma mãi e neste i estivesse contido todo o universo. Talvez seja assim. Para os filhos, as mães começam por ser o universo, todo o universo. Crescer significa fazer encolher a dimensão de universo que é uma mãe. Enquanto os filhos crescem, as mães diminuem. Passam a galáxia quando os filhos chegam à escola, depois a sistema solar, de seguida a planeta e, conforme os filhos envelhecem, as mães vão-se tornando mais reais, até atingirem a dimensão que é a delas, a de serem mães. Os pais são construções das mães e, para os filhos, são sempre mais reais, pois não foram nunca o universo, mas o símbolo da realidade. Temo que estas opiniões que me ocorreram agora possam ser mal interpretados e sobre elas seja lançado qualquer anátema. São apenas opiniões que me ocorreram. Foram estas, poderiam ter sido outras, mesmo contraditórias, mas a verdade é que eu ouvi um i longuíssimo preso à palavra mãe. Seja como for, a família recolheu-se, pois não tarda é hora de almoço, ainda por cima é domingo de Páscoa e as pessoas, mesmo que não saibam o que significa a Páscoa, gostam do almoço do domingo de Páscoa. Sobreveio um grande silêncio. Um sinal para me calar.

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