sábado, 17 de abril de 2021

Desamizades

Coube-me hoje a vez de ser vacinado. Sobre o assunto nem sei o que dizer. A picada da agulha não se sente – ou eu não a senti – e o tempo que demora o processo quase não dei por ele. A enfermeira disse já está. Está? Retorqui. Está, mesmo. Que me sentasse meia hora para ver o que acontecia. Foi isso que fiz. Enquanto esperava e via o que acontecia, um conhecido abordou-me e perguntou-me se eu o tinha desamigado no Facebook, pois não via as minhas coisas nem tinha acesso à minha página. Fiquei perplexo, não me ocorreu que esta interpretação podia acontecer. Disse-lhe que não, não sou pessoa para andar a desamigar outras, mas que tinha fechado a conta. Fechar uma conta no Facebook, pensei, equivale a desamigar toda a gente que tinha o estatuto de amigo. Parece uma devastação. Para mim foi como se tivesse deixado de ir a um certo restaurante. Cansei-me e, sem dar contas a ninguém, desalvorei. Imagino, agora, que deveria ter feito uma proclamação solene dizendo meus caros amigos, sois todos muito estimáveis, mas esta conta fechar-se-á dentro 99 horas 32 minutos e 56 segundos. Punha um desses relógios que fazem contagens e, passado o último segundo, a conta fechava-se com fogo-de-artifício. Não me ocorreu. A perfeição não é um dos meus dons. Será que irei ter reacções adversas à vacina? Já fui vacinado há duas horas, mas estas coisas podem ser como o meu entendimento, lentas. Está um sol vivo, quase radioso. Uma mosca poisa na parte exterior do vidro da janela. A vida não passa de uma colecção de pequenos nadas, por mais exuberantes que eles nos pareçam.

2 comentários:

  1. Já? Mas que sorte!
    Alguma questão de risco? Ou já chegou nessa zona à sua faixa etária? Que corra tudo bem...
    ~CC~

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Algum risco profissional. Até agora está a correr, obrigado.

      HV

      Eliminar