Numa das pracetas desta zona, há dois jacarandás. Não percebo o mistério que os separa, eles que estão tão pertos um do outro. Enquanto um permanece adormecido e tímido, o outro decidiu entregar-se a uma floração entusiástica, abrindo-se para o espanto dos olhos que para ele se dirigem. Durante grande parte do ano o jacarandá não é particularmente belo, mas, chegado ao momento da floração, transfigura-se e parece apostado em fazer-nos crer que existe uma ordem no universo e que ela tem por finalidade abrir o olhar dos mortais à beleza. A grande aventura da arte de vanguarda foi a ruptura com a ideia de beleza, imiscuindo-se na arte outros interesses estéticos e artísticos. Durante um período da existência humana, os mortais tinham três ideias que regulavam a sua vida. Na realidade, era uma ideia com três faces, uma espécie de trindade, ao mesmo tempo una e trina. O Bem, a Verdade e a Beleza. Depois, cada uma destas faces foi seccionada e, posteriormente, abandonada. O que me haveria de dar numa tarde de segunda-feira, logo a mim que tanto tenho para fazer. Ainda me esperam duas vídeo-reuniões, das quais há-de resultar a salvação do mundo e a resolução dos mais ingentes problemas da humanidade. Daqui a pouco vou espreitar o jacarandá, de caminho observa o friso das orquídeas. Há no mundo vegetal uma dignidade inexcedível, uma forma de se entregar à vida sem a necessidade do triste espectáculo da morte, ou, pelo menos, minimizando-o drasticamente. Como são sábias e serenas as grandes árvores. Nelas habita a verdade, o bem e a beleza.
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