quarta-feira, 5 de maio de 2021

Da beleza

As orquídeas, no seu friso, continuam esplendorosas. Por vezes, chego-me perto delas e fico a contemplá-las, a olhar os padrões que cada uma apresenta, as cores que nunca são exactamente iguais, num exercício de diferenciação a proclamar que nada na natureza é igual a outra coisa. Talvez aquilo a que damos, sem muito pensar, o nome de natureza não seja mais que um contínuo exercício de criar diferenças, para multiplicar as possibilidades de espanto. Caso as orquídeas fossem todas exactamente iguais, o prazer de as olhar depressa se extinguiria. Descobre-se, então, que a multiplicação sem fim das diferenças não passa de uma manobra de sedução. Não há nada mais sedutor que uma beleza única, diferente de todas as outras. Semelhanças e analogias não passam de pobres estratagemas de mentes incapazes de suportar o terrível que existe no que é belo. Um poeta romeno escreveu o verso a luz continua a trabalhar sob a casca dos frutos. Imagino, de imediato, a luz numa grande e invisível azáfama, até que o fruto se ilumine por dentro e se torne num relâmpago ao sentir os dentes da boca que o há-de comer. Um triste destino o do fruto e de tudo o que é belo.

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