Tudo isto se tornou muito monótono. Olha-se para um jornal ou para um noticiário na televisão, e parece que a realidade flutua entre o judicial e o patológico. A pergunta sacramental de quem se dispõe a ver notícias é quem foi hoje preso ou condenado? Quando as coisas não começam por aí iniciam-se com a pandemia. Os casos aumentam, também os internados e aqueles que estão em cuidados intensivos. Há muito que julgo ser a realidade uma coisa perversa. Há que ser mais preciso. Ela é perversa e muito fastidiosa. Dizia-se, não sei se ainda se diz, que uma pessoa sem vontade de comer tinha fastio. Eu, em criança, sofria imenso de fastio. Depois, vá lá saber-se a razão, passou. Hélas! Daqui a pouco terei de sair de onde estou, um lugar de temperaturas amenas, para regressar à antecâmara do inferno. Vou fazer uma viagem de 10 graus. Na sexta-feira, estarão 40. Por antecipação, sinto já os meus velhos neurónios a derreter. Se com eles arrefecidos aquilo que escrevo é o que é, o que será quando mergulharem nesse braseiro, prova das alterações climáticas?
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