Aqui perto alguém ouve rádio. Há palavras que não decifro e uma música que reconheço como inimiga dos meus ouvidos. Presumo que seja alguém da minha geração, embora eu não pertença à minha geração. Não é que me julgue acima dela, pelo contrário. Sou anacrónico e nunca consegui acompanhar o ritmo das coisas que fizeram a moda no tempo em que as pessoas ligavam à moda. Há dias, numa daquelas reuniões online em que a vida se tornou fértil, um dos participantes, músico nas horas vagas, disse que o seu grupo ia actuar, não consegui perceber onde, e prestar tributo a um outro grupo inglês, famoso naqueles dias em que se é novo e se deveria prestar atenção a essas coisas. Um frémito perpassou pela assistência virtual, desejosa também de tributação. Fiquei com pena de mim, pois não senti qualquer frémito, nem vontade de qualquer tributo. Para tributo, já bastam os impostos, diria eu, caso fosse um liberal, mas não sou. Como narrador, estou proibido pelo autor de ter qualquer ideia política, o que talvez seja uma vantagem. Acabei uma das tarefas que a realidade me impôs e tenho uma enorme vontade de ir dormir uma boa sesta. Talvez não seja uma má ideia.
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