sexta-feira, 9 de julho de 2021

Um padre contaminado

Fui contagiado pelo Papa, ouvi. O Papa tem alguma doença contagiosa, apanhou COVID, perguntei, e acrescentei, de imediato, que não sabia que tinha estado com Sua Santidade. Nesse momento o padre Lodo deu uma enorme gargalhada. Não sou digno, afirmou, de ser por ele recebido. O contágio é outro, a bola. Franzi o sobrolho e disparei para o telemóvel, a bola, mas qual bola? O futebol, o campeonato da Europa. O Papa é adepto de um clube argentino e eu, que nunca na vida liguei ao futebol, estou em transe devido à final do campeonato da Europa. Sempre sou italiano, é preciso não esquecer, embora eu quase me esqueça todos os dias. Sou de uma família iluminista, mas que deu à luz um jesuíta. A minha vontade foi sublinhar que cada um terá os vícios que entender, mas contive-me. O pior é que o padre Lodo está mesmo entusiasmado. Sabe, inclusive, o nome dos jogadores italianos e até de alguns ingleses. Nunca imaginei, foi preciso chegar a velho, continuou, para olhar para a bola. Depois riu-se. Talvez Deus me perdoe este entusiasmo, mas a minha idade terá de me dar algumas prerrogativas, e gostar de futebol talvez seja um pecado, mas apenas venial, acrescentou. Quando nos despedimos, perguntou-me se não lhe desejava boa sorte para a final. Claro que desejo, sempre são latinos e os bárbaros da ilha não sabem o que é cultivar a vinha. Ele riu-se.

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