Nos poucos cronistas de jornal que ainda leio conta-se um que deu à sua coluna semanal a designação de Acção Paralela. Não vou aqui contar a história da Acção Paralela, nem tão pouco especular sobre as razões que terão motivado tal escolha pelo colunista. Não o conheço e as suas motivações não me interessam. Digo apenas que é uma citação literária de um dos elementos da trama romanesca de O Homem sem Qualidades, de Robert Musil. Não parece, esta informação, particularmente motivante para levar quem nunca leu o exorbitante romance a lê-lo. Bem, há quem pense que não se trata de um romance, mas de um anti-romance, talvez influenciado pela Física que à matéria opôs a antimatéria. Já me estou a perder no que ia dizer. Disse que o romance é exorbitante, pois, apesar de inacabado, ou talvez por isso, tem largas centenas de páginas. Quem gostar de literatura, eis uma obra excelente. Quem gostar de entretenimento, esqueça. Há por aí muitos livros venturosos de autores aventurados. Musil faz parte de um quinteto que abriu o romance à modernidade. Desse grupo constam Kafka, Broch, Joyce e Proust. Isto, todavia, não interessa a ninguém, ainda menos se se está a entrar no fim-de-semana, o qual é uma espécie de acção paralela à semana útil – embora, não se perceba em quê – propriamente dita. Caso eu tivesse talento e propensão para romancista, haveria de escrever um romance com o título Acção Paralela, no qual haveria de ficcionar a minha natureza de narrador sem qualidade. Julho entregou-se ao calor. Talvez este narrador se devesse entregar a uma psicanálise do fogo.
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