Há palavras que não querem dizer nada. Julgo que foi Roland Barthes, mas o tempo corroeu a certeza, que chamou a atenção para a não significação do adjectivo agradável. Dizer que um romance ou um concerto são agradáveis não diz nada sobre eles. É uma forma de não dizer aquilo que se sente ou pensa, para evitar um inútil conflito. Há pouco li, num comentário a uma peça musical, outra expressão que não quer dizer nada. Uma música inspiradora. No entanto, quem a escreveu tem a inocência que o presumível Barthes não tinha. O comentarista julga mesmo que é um elogio fazer notar que a música é inspiradora, pois nada tem a dizer sobre ela e encontrou ali um refúgio para a sua necessidade de exprimir uma opinião. Deveria haver um dicionário de palavras que não querem dizer nada. Seria de grande utilidade para a educação da urbanidade das pessoas. Existe quem julgue ser de grande mérito dizer a verdade – isto é, aquilo que acha que é a verdade – e não hesita dizer coisas desagradáveis, sem que isso contribua para uma atmosfera mais saudável. Acaba sempre por se justificar, eu cá não tenho papas na língua. Quem a ouve sente pena pela falta das papas ou pela existência da língua. Educar as pessoas para a urbanidade não é um exercício de cinismo, como se poderá supor. O que cada um acha o que é a verdade e aquilo que esta é são coisas muito diferentes. Se o assunto não for decisivo, optar pela urbanidade e usar uma palavra que não significa nada torna o mundo mais aprazível. Alguém pode dizer que este texto é agradável ou inspirador. Isso não quer dizer nada sobre ele, mas a atmosfera fica menos poluída. É tudo uma questão de poluição. Agora, porém, terei de ir ler um conjunto de coisas que não posso dizer que sejam agradáveis e inspiradoras.
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