sexta-feira, 19 de maio de 2023

Imagens, palavras e dores de garganta

Uma dor forte na garganta e um estado de ânimo prostrado foi condição suficiente para que não fizesse a caminhada matinal que a sexta-feira me permite. Não evitou, porém, que participasse numa reunião, pois o admirável mundo novo trazido pelas videochamadas impede que eventuais vírus se transmitam pelas ondas do éter. Lá chegaremos, mas a tecnologia disponível ainda não foi tão longe que permita o teletransporte de seres minúsculos como o são os vírus. Se um vírus me atacou, caso ainda por provar, os outros participantes não me poderão acusar de ser um contaminador implacável. Por outro lado, pelo mesmo motivo, já faltei a um compromisso presencial e irei faltar a outro mais logo. Tendo jurado não sair de casa, entre tarefas resolúveis no lar, tenho dedicado algum tempo a uma revista de que já falei por aqui. A do número de Verão, de 2023, da Electra. A reprodução de pinturas de Albert Oehlen é um momento alto deste número. Talvez esteja com pouca disposição para mergulhar nos artigos que ainda não li e fico a contemplar as imagens. E isto fez-me lembrar uma expressão que abomino, uma imagem vale mil palavras. A abominação vem de isso ser um lugar-comum assente no desconhecimento do que é uma palavra. Já se imaginou quantos milhões, milhares de milhões de imagens se escondem por dentro de uma palavra tão trivial como cadeira. As palavras vivem ajoujadas com o peso das imagens que têm dentro delas. Nenhuma imagem vale uma palavra. Cada imagem vale por si mesma e quando começa a valer por outra coisa, então deixa de ser imagem. Uma imagem não é uma nota de banco. Nada disto obsta a que a garganta não tenha sinais de infecção, mas ajuda a conviver com eles.

2 comentários:

  1. Comecei assim, 2º dia teste à Covid Negativo, 5º dia teste positivo. Sei que já ninguém os faz, mas ainda continuo a querer proteger os outros. E acredite que ao 8º dia a sensação de fadiga persiste. Está bem que foi a primeira vez que o vírus me visitou...as suas melhoras!

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    1. Muito obrigado. Já fui visitado pelo vírus, embora pouco tenha dado por ele. Ainda não me testei, mas amanhã é possível que o faça. Tenho evitado contactos.

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