Hoje de manhã, ao parar o carro para ir à padaria, deparei-me com um gato em cima de um muro. Ao vê-lo naquele estado em que, havendo sol, os gatos parecem suspender a existência, pensei: é o gato de Schrödinger. Está vivo e está morto, ao mesmo tempo. Depois, retrocedi no pensamento. Não pode ser o gato de Schrödinger, estando eu a observá-lo, necessariamente que o seu estado estará definido. Ou está vivo ou está morto. Não há lugar para uma superposição de estados. Isso perturbou-me no caminho até ao sítio onde, para além do pão, se vendem uns bolos que, decididamente, não são maus e bons ao mesmo tempo, mas apenas muito bons. Excelentes. A causa da perturbação reside em que se tudo o que há estivesse num estado de superposição, mesmo quando observado, a realidade seria mais rica, pois estava sempre num estado potencial. Abríamos a caixa e o gato continuava morto e vivo, pois tinha e não tinha sido envenenado, coisa que causaria repulsa à nossa razão, a qual, como se sabe, abespinha-se facilmente e mal pressente o aroma da contradição – por exemplo, num mero oximoro – começa a sentir-se mal, a pedir que lhe tragam os sais, senão desmaia, e não há espectáculo mais triste do que ver uma razão que perdeu os sentidos, espalhada pelo chão. A conclusão de toda esta aventura é a seguinte: não se deve ir à padaria, mas se se for, convém não encontrar um gato em cima do muro. Caso isso tenha de acontecer, não olhar para ele, se não se conseguir evitar o relancear dos olhos pelo bichano, não fazer associações idiotas. Se mesmo isso, porém, não for possível, o mais indicado é comer um bolo que a padeira, uma rapariga nova e engraçada e que, presumo, não seja de Aljubarrota, venderá de bom grado. As minhas pobres netas não estão preocupadas com o gato do senhor Erwin, mas com umas fórmulas de matemática, cada uma com as suas. Vou levar-lhes um bolo que não esteja num estado de superposição quântica, ou seja lá o que isso é.
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