Isto anda mal. Por isto refiro-me à imaginação. Parece estar pouco disponível para encontrar tema para esta narrativa. Resta-me falar do clima. Por aqui chove e chove desde a manhã. Aliás, já chovia quando ainda não tinha despontado a aurora de róseos dedos, pois acordei às tantas da noite e ouvi aquilo que me pareceu ser chuva. Até o assunto do clima se esgota rapidamente. Talvez seja essa a medida de todas as coisas humanas, esgotarem-se demasiado depressa. Sim, eu sei, há coisas que parecem nunca ter fim. Isso, porém, não passa de uma aparência e nem tudo o que parece é, como sublinha a sabedoria popular. Por desfastio, estou a ouvir uns quintetos com piano, de João Domingos Bomtempo. Ora, a questão climática persegue-me mesmo na música. Logo o homem haveria de se chamar Bomtempo. Por aqui, há uma família conhecida como os Má Tempo, assim mesmo. Não consta que tragam mais tempestades e ciclones do que qualquer outra família. Estes nomes são um mistério. Aliás, tudo é um mistério e o que não nos parece ser misterioso deve-se apenas à habituação do olhar. De tanto vermos uma coisa, pensamos que a conhecemos. Isso, porém, é uma armadilha que as coisas lançam e nós caímos nela. Elas querem repousar descansadas, temerosas das nossas indagações, então deixam que criemos ilusões sobre o nosso conhecimento. Quando estamos distraídos riem-se de nós. Se ficamos atentos, fingem-se de mortas, o que é sempre uma boa solução.
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