Um domingo sonolento, como o são os domingos de província. Deslocam-se pesados e lânguidos pelas ruas, suspiram, sentam-se num banco de jardim, se está sol, respiram fundo e adormecem, até que um golpe de vento ou o latido de um cão os acorda, e voltam a ser domingos, com os seus fatos provincianos, as pernas bambas e um cérebro infestado de vermes, micróbios, fungos, salmonelas, vírus de vária origem. Penso em tudo isto para não pensar noutra coisa, pois existem imensas coisas para pensar, mas não me apetece, o almoço talvez se tenha tornado pesado, talvez tenha bebido um pouco, o que me dá sono, talvez nem tenha ocorrido uma e outra coisa, e eu não tenha almoçado, e sofra de fraqueza. Uma das minhas netas entrou no escritório e perguntou-me se lhe dava duas folhas brancas. Perguntei-lhe: duas folhas brancas de que cor? Olhou-me perplexa e quando ela ia pensar se o avô estaria bem, sorri-lhe e ela sorriu-me descansada. Afinal, estava a brincar comigo, terá pensado, pegou em duas folhas brancas, agradeceu e saiu. A outra, pobre dela, continua a ser submetida a exercícios de Matemática. Há pouco houve um drama qualquer acerca de coordenadas e abscissas, o eixo do xis e o eixo do ípsilon, e outras aleivosias do género. Os dias, por aqui, continuam ventosos, muito pólen pelos ares, poeiras, sabe-se lá mais o quê. Não tarda, e elas vão-se embora, para que fique um vazio pela casa, desapareçam os risos que só as raparigas conhecem o significado, e o domingo ainda se torne mais domingo e mais provinciano.
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