Os dias continuam a minguar. Saí de casa para ir à farmácia; o exército da noite já tinha tomado de assalto a avenida, agora sujeita à rutilância dos adereços de Natal. Ora, mudando de conversa, se a história do nascimento do Menino fosse nos nossos dias, os Reis Magos não viriam do Oriente, pois, com a poluição luminosa, não conseguiriam descortinar nos céus a estrela que os haveria de guiar. É preciso que a noite não seja incomodada com simulacros do dia, para que certas estrelas – aquelas que guiam os que procuram um destino – possam ser vistas e permitam aos videntes fazerem-se ao ao caminho, sem temor de se perderem por falta do astro benevolente que os norteie, mesmo que seja o Sul que os espera. É certo que existem GPS, o Google Maps e o Waze, mas esses só nos levam, quando levam, a destinos onde não nascem Messias. Se, por acaso, um desses dispositivos ou uma dessas aplicações nos levar a um sítio onde está a nascer um salvador, o melhor será fugir enquanto houver tempo, pois salvadores humanos são coisas – repito, são coisas – que conduzem os pobres homens à perdição. Imagino que estou a dramatizar, mas, com a diminuição constante dos dias, não tarda estaremos mergulhados nas trevas eternas.
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