O carrossel da noite instalou-se há muito. Nele viajam figurantes de um drama, pois essa é a natureza dos homens. Por vezes, o próprio nascimento é um drama. Depois, a saída de cena, mesmo quando há quem se rejubile, não deixa de ser dramática, por mais prosaica que seja. E o que vai da hora do nascimento até à hora da morte nunca deixa de ter os seus dramas. A palavra grega δρᾶμα (drama) deriva do verbo δρᾶν (agir) e significa acção. Contudo, não se deve confundir com acção enquanto πρᾶξις (praxis), que se refere à acção derivada de decisões e escolhas de natureza ética e política. Enquanto acção, drama é uma representação teatral. Ora, quando se diz que a vida, ou partes dela, e a morte são dramas, temos de entender que são representações. Dito de outra maneira, o dramático é dramático porque resulta de uma encenação. A expressão, ao gosto popular, estás a fazer cenários, colhe, na sua crueza jocosa, o sentido da dramaticidade da vida e da morte. Não se pense, porém, que isto é uma crítica aos dramas da vida e da morte. São eles que nos tornam humanos. São jogos rituais que conferem um sentido ao que, na verdade, são meros acontecimentos perdidos num universo sem medida humana. A nossa vida e a nossa morte só têm sentido num universo representacional, num mundo encenado. O carrossel da noite continua a girar. Nele entram e saem figurantes. Na verdade, na grande representação da vida e da morte, não há grandes estrelas; só figurantes.
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