Foi o meu exercício matinal. Tive de ir a uma rua desconhecida de uma cidade aqui ao lado. Como se tornou moda, também esta cidade tem um fascínio – talvez um fetiche – com o reordenamento do trânsito, alterando-o segundo um critério tão secreto que nem os próprios responsáveis pelas alterações o conhecem. Valeu-me uma aplicação denominada Waze, que me levou à porta do estabelecimento a que queria ir. Além desta capacidade de me guiar pelo labirinto das ruas cheias de proibições, permissões e sentidos obrigatórios, tem uma outra, milagrosa. Ao dizer chegou ao seu destino, eu parei o carro, liguei os quatro piscas, saí, recolhi a encomenda, paguei – tudo isso sem que um polícia se interessasse pelo meu carro. Terei, um dia destes, de acender uma vela a S. Waze, protector dos infractores de estacionamentos proibidos. Talvez – penso agora – a razão tenha sido outra. Os agentes da autoridade, tomados pelo espírito natalício, fecham os olhos a estes pequenos delitos de trânsito. Uma terceira possibilidade é que andem todos entretidos a comprar os últimos presentes de Natal para oferecer aos cônjuges ou candidatos a cônjuges. Declaro, por minha honra, que não fui comprar nenhum presente, nem qualquer coisa que se relacione com o Natal. Fui a uma mercearia buscar a tradução que me faltava, das três publicadas em Portugal, do Ulisses, de James Joyce. O proprietário do estabelecimento tinha-a anunciado num dos sites de venda de livros em segunda mão e, como era aqui ao lado, aproveitei para fazer exercício. Estas vésperas de Natal não são fáceis.
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