quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

O enjambement do Inverno

O Outono aproxima-se do fim. Pouco mais de trinta e seis horas e ouvir-se-á pancadas na porta. É o Inverno que chega e quer entrar na casa grande do ano, embora o ano tenha apenas mais uns dias e logo dá o último suspiro e entrega a alma ao criador. Por isso, a estação fria tem de recorrer ao enjambement e espraiar-se no verso seguinte, introduzindo um infeliz desalinhamento da disposição métrica e sintáctica do ano com a estrutura semântica. Tivesse este narrador sido chamado para criar as estações do ano, outro seria o calendário. Nada de começar no fim, que é aquilo que o Inverno faz. Parece que meteu uma cunha, coisa normal neste país, para apanhar o subsídio e os presentes de Natal,  bem como a folia de fim de ano. Não compreende – certamente, por falta de inteligência – este narrador o cultivo que certos sectores da sociedade fazem da natureza como padrão dos comportamentos. Se o metro-padrão fosse natural, um dia teríamos um metro do tamanho de noventa centímetros e no outro mediria centro e doze, com mais um ou dois milímetros. Outra coisa que me irrita é, para além da data, a hora do começo. Neste infeliz ano, o Inverno começa no dia 21 de Dezembro às 9 horas e 19 minutos. Por que raio, não começa às zero horas? Que sentido faz uma pessoa olhar para o relógio, ver que são 9 horas e 15 minutos e pensar que ainda está no Outono? Deixo aqui o meu contributo decisivo para um mundo melhor. O próximo Inverno, depois deste, deverá começar às zero horas do dia 1 de Janeiro de 2026. Temos de começar a pôr ordem no caos que os homens introduzem na vida sempre que se dispõem a regular seja o que for por padrões da natureza.

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