É um fardo que se leva aos ombros, pensei, enquanto me dedicava a um jogo de estatísticas e comentários avulsos sobre dados que tinha ajeitado não sem critério. É deste modo ínvio que os mortais consomem a existência, enquanto a tenaz do relógio não deixa de apertar o pobre pescoço da vida. O telemóvel não pára de piscar, insiste em ter alma. Comunica-me que hei-de ter uma reunião. Agradeço, mas não me sinto obrigado. A vida moderna é um desastre ocioso, de tal maneira que as ociosidades se tornaram um exercício duro e implacável. Talvez fosse a isso que, noutros tempos, se referia a ambígua expressão de alegria no trabalho. Uma porta bateu com violência e depois o silêncio cresceu sobre mim, para me perder e deixar-me a falar só comigo mesmo. Por vezes, embora raras, chego a concordar com o que me digo e tenho uma fundada inveja daqueles que estão sempre de acordo consigo mesmos. Deles será o reino dos céus, presumo.
Ontem quando li o título do post - Um fardo - achei que só podia ser coincidência.
ResponderEliminarÉ que eu tinha um fardo para carregar, e lá consegui executar a tarefa mais uma vez, com algum esforço, fingindo que não era nada comigo.
Que alívio, já passou!
Espero que para o ano não haja mais; porém, se houver, espero ainda ter ombros aptos para a tarefa.
⚘
Maria
Talvez os fardos se adaptem à aptidão dos ombros, mas isto é apenas uma mera hipótese.
EliminarHV
Mas que bela mera hipótese.
EliminarVou-me agarrar a ela nos próximos 364 dias.
⚘
Maria