domingo, 3 de março de 2019

Profecias

Se eu fosse uma pessoa razoável, evitaria comprar certos livros. O mais sensato seria mesmo deixar de os comprar. Não o sou, não resisti e adquiri um livro com o estranho título de O Futuro do Comunismo Soviético. O meu grau de desfasamento da realidade não é tal que eu julgue que ainda existe o comunismo soviético. Caminho alegremente para a segunda infância, mas ainda não troco, por completo, as datas históricas. Por enquanto. O que me interessou foi a profecia. Há dias como os de hoje, em que o sol magro da tarde se combina com a tristeza de um domingo de Carnaval – meu Deus, nunca mais chega a quarta-feira de Cinzas –, que o meu espírito é atravessado por singulares sugestões vindas sabe-se lá de onde e que cedo à tentação dos profetas. O original, publicado na Alemanha é de 1975, e a tradução brasileira que adquiri é de 1977. O espírito arde-me de curiosidade para saber se o profeta profetizou o futuro ou expeliu em forma de letra os seus desejos ou temores, que são outra forma de desejos. Também eu gostava muito de profetizar. Desisti da ideia quando descobri que nem sobre o passado era capaz de vaticinar quanto mais sobre o futuro. Vou apanhar sol enquanto não chega a chuva que a meteorologia prognosticou.

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