Está a ficar um caos, assenti. Como os coelhos, os livros têm uma capacidade reprodutora inimaginável e com facilidade geram as agruras dos lugares sobrepovoados, o que produz inevitáveis problemas de habitação. Que analogia tão reles, pensei para mim. Por muito que se invista em novas bairros, acrescento em voz alta, os sem-abrigo não hesitam em empilhar-se por aqui e por ali, sem o pudor que um lugar estável numa estante sempre oferece. Crescem em número e ameaçam a ordem com as suas faces de mendigos à espera de esmola. O dia está cinzento, passam pessoas com guarda-chuvas na mão e não diviso no horizonte foliões espontâneos. Os pátios da escola ao fundo da rua estão vazios, os campos de jogos abandonados e não se ouvem as interjeições com que a adolescência rasga o denso véu da vida. Nada disto tem a ver com livros, mas a maior parte das coisas que me passam pela cabeça não têm a ver com nada. São borbulhas que vêm e logo rebentam. Não me foi dada a vocação das coisas profundas nem a inteligência da continuidade. Vou ver se ponho um pouco de ordem no caos, já que não comprei serpentinas para as jogar janela fora.
E um Mardi Gras cinzentão e chuvoso parece-me óptimo para pôr os coelhos (perdão, os livros) em ordem.
ResponderEliminarSe bem que um pouco de caos também não seja assim tão mau...
Isto sou eu a tentar convencer-me que vou ter tempo para tratar (ler) todos os coelhos que não consigo deixar de trazer para casa...
⚘
Maria
Essa é vexata quaestio. Ter tempo para ler todos os livros que o desejo nos aponta como alvo. Não temos. Talvez isso seja um castigo dos deuses.
EliminarHV