Estes dias de Verão não passam de uma fantasia. Com uma liberdade aparente, foge-se dos grandes calores e encontra-se refúgio perto do mar, onde as temperaturas nunca se entregam a devaneios hiperbólicos. Aqui, onde há um ditado que diz primeiro de Agosto, primeiro de Inverno. Os dias passam sem inquietação, a não ser a inquietação de que tudo termine e a realidade, essa grande meretriz, volte e crave as suas garras na carne repousada pela estiagem. Ainda não pus um pé na praia e tenho esperança de a evitar tanto quanto possível. É um lugar para o qual não tenho paciência. Não consigo perceber como há quem passe horas e horas ao sol, mas como há muitas outras coisas que não compreendo, tenho de integrar essa incompreensão na incompreensão geral que me foi destinada. Seja como for, gosto de contemplar o mar, desde que o olhar passe por cima dos veraneantes. Trouxe comigo uma pilha de livros. O mais certo é não ler nenhum, pois cada vez mais cultivo a preguiça, o não fazer nada e, se for possível, não pensar em nada. De resto, faço longas caminhadas, onde acumulo pontos cardio, embora não saiba para servem tais pontos. A aplicação que os mede diz que acumular 150 pontos durante uma semana ajuda a prolongar a vida. Parece-me uma afirmação fantasiosa e que jamais poderá ser testada, o que evita ser falsificada. Logo, não científica, segundo Sir Karl Popper. De resto, a pandemia tornou-se um novo modo de aprender o alfabeto grego, o chamado ελληνικό αλφάβητο. Temos uma variante alfa, uma beta, uma gamma e uma delta. Isto, apesar de didáctico, é desesperante. Para chegar ao fim, ao ómega, ainda faltam vinte letras. O mundo está longe da perfeição.
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