Nestes quase dois anos, os que dura a pandemia, já vivemos diversas eras. A era do confinamento, a era da máscara e, agora, a era da zaragatoa. Esta esteve sempre presente nas eras anteriores, mas tornou-se, por estes dias, o elemento central. As pessoas fazem filas para serem zaragatoadas. Também eu, há pouco, me coloquei numa dessas filas. Ela foi caminhando devagar e, por fim, tive direito a que me escarafunchassem o nariz com uma pequena zagaia. Ainda não sei o resultado, mas já nem faço prognósticos, pois estes nem mesmo no fim do jogo dão certo. Preciso de fazer uma visita a uma pessoa internada num daqueles sítios que exigem um teste. Caso tenha nota negativa, vou tentar fazer uma dupla visita. Há muito que se sabe que a matemática é fundamental para a vida civilizada, mas nunca se pensou que até uma simples análise tenha de ser calculada para se poder tirar o máximo proveito dela, caso ela permita tirar algum proveito e não obrigue a quarentenas, telefonemas para o serviço nacional de saúde e o temor do que poderá vir a acontecer, pois nestas coisas, o melhor é não ter qualquer certeza. Em compensação, o dia tem estado magnífico. É no Inverno que amo o Sol e os dias ensolarados trazem ao coração – e também à velha razão – uma alegria inesperada. Esperar os resultados da zaragatoa faz parte daqueles fenómenos que Peter Handke caracterizou, no título de um livro, como a angústia do guarda-redes antes do penalty. Uma pessoa pensa sempre naqueles com quem tem estado, se não vai ser causa da doença deles. Tudo isto é cansativo, mas há que aprender a viver de zaragatoa em zaragatoa.
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