quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Forças mágicas

No volume II, A Queda para Fora da Realidade, da sua Crónica dos Sentimentos, Alexander Kluge tem um capítulo dedicado ao tema da Revolução denominado A Revolução É um Ser Vivo Cheio de Surpresas. Como no resto da obra, também este capítulo é composto por pequenos textos, alguns com títulos extraordinários, A Querela das Revoluções: Formam Círculos ou Espirais? Ou Serão Hipérboles? Levantam Voo? Se achou este título demasiado grande há outros mais pequenos, como por exemplo Aplicação da Medida Métrica ao Tempo do Relógio ou, então, Os Perigos da Filantropia. Das múltiplas denominações dadas aos textos sobre a vexata quaestio da Revolução, aquele que hoje elejo como o meu preferido é Poderão as Ambições de Dominação Gerar Forças Mágicas? Eis um problema fundamental. Há coisas extraordinárias desde que se ponha em movimento a ambição, o desejo e outras forças que não sendo ocultas, também não são manifestas, como no caso que acabo de ler de uma enfermeira italiana. A pobre senhora militava no negacionismo dos efeitos do vírus SARS-COV2. Estava suspensa da função por se recusar vacinar. Publicava vídeos em apoio das suas teses e consta que afirmara querer apanhar o vírus. As forças mágicas fizeram-lhe a vontade e a infeliz não resistiu aos efeitos virais. Sendo assim, não será uma coisa de somenos importância saber se as ambições de dominação têm poder para gerar forças mágicas. Pelo menos forças elas geram, se são ou não mágicas, isso é objecto de disputa, como quase tudo.

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