Tudo pronto, alinhado à porta para ir para o carro. O almoço de Natal seria em Lisboa. Expectativa de ver as netas, de lhes oferecer os presentes, de sentir a sua animação de adolescentes. Um telefonema e tudo se esboroa. Uma das participantes autotestou-se e deu positivo. Devido aos contactos com parte dos que iriam amesendar, decidiu-se pela anulação da viagem e uma súbita nuvem de tristeza abateu-se por aqui. Apesar de não ter havido contacto, também nos submetemos ao ritual do escarafuncho. Por enquanto, tem havido uma sólida fidelidade ao negativo, mas há um conjunto de projectos que irão ser adiados ou, pura e simplesmente, cancelados. Planear é, por certo, uma coisa muito razoável. Contudo, a realidade, com a sua inclinação para a hipérbole, é pouco dada a razoabilidades. Faz o que muito bem entende e rasga em segundos aquilo que levou dias a projectar, quando não mesmo anos. O Natal do ano passado, apesar de tudo, ainda disfarçou, embora estivesse longe dos Natais canónicos. Este ano deu tudo em pantanas. Acho que vou pôr um CD na aparelhagem. Alba, um ensemble dinamarquês, interpreta canções de Natal escandinavas, numa gravação com o nome It Barn Er Fød - Old Yuletide Songs From Scandinavia. Quase há vinte anos que este CD faz parte do Natal. Há que encontrar alguma compensação. Deu em pantanas, escrevi lá em cima. Muito gostava de saber de onde veio essa infeliz expressão. Infeliz num duplo sentido. Infeliz porque é esteticamente feia e porque designa uma situação infeliz. Ainda por cima hoje é o dia em que todos devem dizer Feliz Natal.
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