Está
um belo domingo. O sol que no Verão é, por estes lados, um poderoso e contumaz inimigo,
é agora um aliado na aventura do dia-a-dia. Apesar disso, as minhas pobres
netas têm estado por cá, não para coisas agradáveis, mas por motivos ínvios de
preparação de avaliações. A escola é um problema sem fim. Para os alunos, para
os professores, para os pais e, agora, para os próprios avós que têm de participar
na desventura dos pais. Na semana passada, foi o mais novo com as ondas dos is
e dos us, agora são as mais velhas com coisas menos ondulantes. Em
tempos, numa outra encarnação, havia por casa, não esta, gatos. Descobri que
uma gata com ninhada também leva os filhotes à escola, mas ela é a própria
professora e ensina-lhes o fundamental. Por exemplo, subir e descer árvores.
Ora, aquela escolarização é breve e toda feita de aulas práticas. Uma das
desvantagens da espécie humana é a necessidade de uma longa escolarização, em
que a maioria dos escolarizados se sente infeliz com os aspectos teóricos que o
ensino humano exige. Ora, não há nada mais prático do que uma boa teoria. O
problema nasce da idade que, na maior parte dos casos, ainda não é suficiente para
perceber isso. Tudo aquilo deve parecer um oceano de abstracções cuja utilidade
é invisível, o que no dizer das vítimas se traduzirá por um isto não serve
para nada. E aqui descobrimos uma nova desvantagem da espécie humana. Na
maior parte dos seus membros, há um conflito entre o dever e o prazer. Não tivesse
Epimeteu, quando tirou da terra as espécies animais, esquecido a humanidade e
tudo para nós seria mais fácil. Até o dever seria premiado com o prazer. Esse
terrível esquecimento criou nos seres humanos uma ferida que nunca sarará. O
Homem é um ser ferido por natureza e toda a sua vida é uma luta contra essa
patologia originada por Epimeteu, um titã desmiolado e desatento. Também no
mundo dos deuses as coisas estão longe da perfeição.
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