segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Sensatez e conversão

Quando andei na escola primária, o dia de abertura das aulas era a 7 de Outubro. Na primeira classe, na do meu ano, porém, as aulas começaram a oito, pois sete foi a um domingo. Era um calendário propício à criançada e ainda não consigo perceber por que motivo o meu neto já vai para a quarta semana de aulas. Compreendo que isso seja um alívio para os pais de hoje, mas o alívio dos adultos soa-me a tortura dos mais pequenos. O facto de o começo do ano escolar ser tardio não me impediu de fazer as aprendizagens que tinha de fazer e, estou desconfiado, nada garante que este acréscimo de quase um mês – e talvez não se fique por aqui – não acrescentará nada, do ponto de vista cognitivo, aos alunos. Dar-lhes-á, ainda mais, uma sensação de tédio e o sentimento de que aquilo nunca mais acaba. Pensei isto enquanto fazia a minha caminhada crepuscular. Aproveitei uma aberta e pus-me ao caminho e quando estava mesmo a chegar a casa lembrei-me de que devia comprar nozes. A frutaria é mesmo ao lado. Entrei, comprei nozes e diospiros. De nozes sempre gostei, mas os diospiros é amor recente. Aliás, foi um velho ódio que se transformou em amor, talvez numa paixão. Como se deu essa transformação no meu gosto? Não faço ideia. Foi uma conversão. Paulo de Tarso, a caminho de Damasco, teve uma visão ou audição de vozes e do ódio aos cristãos passou a ter por eles um amor zeloso. A minha estrada de Damasco foi mais prosaica, apenas me converteu à fruta odiada, mas não tive visões nem audições especiais. Hoje é 7 de Outubro, se houvesse sensatez neste país, era hoje que o meu neto começaria as aulas.

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