Quando andei na escola primária, o dia de abertura das aulas era a 7 de
Outubro. Na primeira classe, na do meu ano, porém, as aulas começaram a oito,
pois sete foi a um domingo. Era um calendário propício à criançada e ainda não
consigo perceber por que motivo o meu neto já vai para a quarta semana de
aulas. Compreendo que isso seja um alívio para os pais de hoje, mas o alívio
dos adultos soa-me a tortura dos mais pequenos. O facto de o começo do ano escolar
ser tardio não me impediu de fazer as aprendizagens que tinha de fazer e, estou
desconfiado, nada garante que este acréscimo de quase um mês – e talvez não se
fique por aqui – não acrescentará nada, do ponto de vista cognitivo, aos alunos.
Dar-lhes-á, ainda mais, uma sensação de tédio e o sentimento de que aquilo
nunca mais acaba. Pensei isto enquanto fazia a minha caminhada crepuscular.
Aproveitei uma aberta e pus-me ao caminho e quando estava mesmo a chegar a casa
lembrei-me de que devia comprar nozes. A frutaria é mesmo ao lado. Entrei,
comprei nozes e diospiros. De nozes sempre gostei, mas os diospiros é amor
recente. Aliás, foi um velho ódio que se transformou em amor, talvez numa paixão.
Como se deu essa transformação no meu gosto? Não faço ideia. Foi uma conversão.
Paulo de Tarso, a caminho de Damasco, teve uma visão ou audição de vozes e do ódio
aos cristãos passou a ter por eles um amor zeloso. A minha estrada de Damasco
foi mais prosaica, apenas me converteu à fruta odiada, mas não tive visões nem
audições especiais. Hoje é 7 de Outubro, se houvesse sensatez neste país, era
hoje que o meu neto começaria as aulas.
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