sábado, 12 de outubro de 2024

Um bom fim

Viviam pouco os poetas românticos. Foi o que pensei ao ler uma breve nota biográfica sobre D. José de Esponceda, um dos mais importantes poetas românticos espanhóis. Viveu entre 1808 e 1842. Em 1840, empreendeu uma viagem entre Gibraltar e Lisboa, de que resultou um relato breve publicado no número 8 de El Pensamiento, de Setembro de 1841. A narrativa tem os seus traços de humor. Uma viagem de barco, claro, uma viagem verídica. Um dos passageiros era um comissário de guerra irritadiço, colérico como um porco-espinho e mais afilado do que uma agulha inglesa. Um outro passageiro, uma mulher, de que Esponceda nunca conseguiu saber a nacionalidade, amaldiçoava com destreza e espírito satânico em todas as línguas do mundo. Era uma torre de Babel quando se entretinha a blasfemar. Ora a senhora era casada com um homem que tinha feito a campanha da Rússia com Napoleão e parecia pachorrento e honrado. Criou Deus poucos homens de menor entendimento. Na viagem, além da exímia e multilingue blasfemadora, havia mais duas mulheres que, segundo o autor viajante, se pertenciam ao belo sexo, era mais pelo sexo do que pela beleza. A comida para a viagem só podia ser excelente, pois as provisões consistiam num bacalhau resistente ao dente como sola de sapato e salgado que nem salmoura. A história, porém, tem um belo fim. Chegados a Lisboa, foram visitados pela autoridade marítima que lhes pediu dinheiro. Ele, Esponceda, escreve: Dei-lhes cinco pesetas, as únicas que tinha, e deram-me de troco duas pesetas que atirei ao Tejo. Não ia entrar numa capital tão grande com tão pouco dinheiro. Ora quando se encontra um bom fim, o melhor é não procurar outro.

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