terça-feira, 8 de outubro de 2024

Pathos romântico

Imagino, por vezes, que o mundo teria sido melhor caso o Romantismo nunca tivesse existido. Um mundo onde a ascese da razão servisse para dissolver o espasmo emotivo seria menos dado a grandes perturbações. Quando se celebra o Romantismo sublinha-se a afirmação da individualidade e presume-se a benevolência da subjectividade. Esquece-se, porém, que esse romantismo originou o nacionalismo, ao qual acrescentou a alavanca da emoção e o martelo da paixão. O resultado dessa mistura de emoções, paixões e sentimentos fundados na subjectividade foi simples e objectivo, duas guerras mundiais. O Classicismo e o Iluminismo representavam a rédea curta com que o espírito apolíneo punha ordem no seu irmão, o espírito dionisíaco. Ora, o romantismo foi uma estratégia para Diónisos se libertar da dura disciplina que lhe travava o poder dissolvente inerente à sua natureza. Libertado o deus, o resultado, que ainda não acabou de se manifestar, não foi particularmente entusiasmante. E o problema não está no suicídio do jovem Werther ou do também jovem Simão. O problema está mesmo nos milhões de jovens que enxameiam os cemitérios militares e que não se suicidaram por amor, mas participaram em rituais de suicídio colectivo, criado por um pathos romântico.

Sem comentários:

Enviar um comentário