quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Classificações

Olhei lá para fora e pensei que era sexta-feira. Uma ilusão de óptica. Apesar de a tarde de hoje se parecer com uma tarde de sexta-feira, ainda estamos na quinta-feira. A mente humana tem uma curiosa propensão para fazer classificações e, depois, integrar os fenómenos nessas categorias. Ora, essas categorias são arbitrárias e a inclusão nelas daquilo que acontece ainda é mais arbitrário. Contudo, é essa arbitrariedade que nos permite viver. Torna-se num hábito social ou psicológico, torna-se numa tradição ou num ritual declinado pelo indivíduo. Veja-se o caso de a classificação da tarde de hoje no grupo das tardes de sexta-feira ser completamente errada, ainda assim teve utilidade, pois confrontou-me com o facto de que nem tudo o que parece é, e, sendo assim, estas classificações estão abertas ao erro e não devem ser tomadas como dogmas, mas meras indicações para navegar no mar da existência. Ensina ainda outra coisa. Que há tardes de quinta-feira que se parecem com as de sexta-feira. O dia continua a aproximar-se da hora crepuscular, mas ainda há crianças no parque infantil, perfurando o ar com a verruma das sua vozes e o estile dos seus gritos. Não querem saber qual a tonalidade da tarde que vivem, apenas querem vivê-la na plenitude que toda a inocência implica. As vozes calaram-se, mas o ranger das roldanas das cadeiras de baloiço ocupou o palco. Não há pássaros no horizonte e isso é tudo o que me ocorre.

Sem comentários:

Enviar um comentário