Adeus,
Outubro. Sorrateiro, o mês prepara-se para se escapulir, sem deixar rasto ou
saudade. Não que tenha sido um mau mês, mas também não terá sido excepcional.
Os dias continuam a diminuir, ameaçando o mundo com a sua fuga e o advento de
uma noite eterna. Amanhã, será Dia de Todos-os-Santos, uma espécie de memória a
granel. Há uns santos especiais, que merecem um dia só para eles; mas, depois,
há aqueles santos cuja santidade não terá convencido os juízes que atribuem
dias aos santos e, pobres deles, ficaram tolhidos num dia de indiferenciação
igualitária. Isso, porém, não é tema para hoje. Das efemérides referentes ao
dia de hoje, a que mais me impressiona é a da batalha de Bersebá, em 1917, na
primeira Guerra Mundial. Quais as razões para tal admiração? Segundo li, foi a
última carga de cavalaria bem-sucedida na História. Eis uma data clara e que
marca o fim de um tempo. A partir daquela hora, a cavalaria, entendida
literalmente, deixou de ter sentido. Aliás, naquela guerra não faltaram coisas
sem sentido, a começar por ela própria. Talvez as guerras sejam mesmo assim.
Começam com um sem sentido qualquer e, depois, lá vão elas até que ganhem um
sentido e acabem. Não vale a pena encontrarem outras explicações para a guerra.
Quando o sem sentido é de tal modo grande, dá-se a irrupção de um conflito que
não é outra coisa senão uma busca de sentido, que ponha fim ao estado
depressivo da falta de sentido. A guerra é uma luta contra o spleen, a
angústia existencial, a náusea e o absurdo. Termino o mês com mais um
contributo decisivo para a compreensão do mundo em que vivemos.
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