quinta-feira, 31 de outubro de 2024

O sentido

Adeus, Outubro. Sorrateiro, o mês prepara-se para se escapulir, sem deixar rasto ou saudade. Não que tenha sido um mau mês, mas também não terá sido excepcional. Os dias continuam a diminuir, ameaçando o mundo com a sua fuga e o advento de uma noite eterna. Amanhã, será Dia de Todos-os-Santos, uma espécie de memória a granel. Há uns santos especiais, que merecem um dia só para eles; mas, depois, há aqueles santos cuja santidade não terá convencido os juízes que atribuem dias aos santos e, pobres deles, ficaram tolhidos num dia de indiferenciação igualitária. Isso, porém, não é tema para hoje. Das efemérides referentes ao dia de hoje, a que mais me impressiona é a da batalha de Bersebá, em 1917, na primeira Guerra Mundial. Quais as razões para tal admiração? Segundo li, foi a última carga de cavalaria bem-sucedida na História. Eis uma data clara e que marca o fim de um tempo. A partir daquela hora, a cavalaria, entendida literalmente, deixou de ter sentido. Aliás, naquela guerra não faltaram coisas sem sentido, a começar por ela própria. Talvez as guerras sejam mesmo assim. Começam com um sem sentido qualquer e, depois, lá vão elas até que ganhem um sentido e acabem. Não vale a pena encontrarem outras explicações para a guerra. Quando o sem sentido é de tal modo grande, dá-se a irrupção de um conflito que não é outra coisa senão uma busca de sentido, que ponha fim ao estado depressivo da falta de sentido. A guerra é uma luta contra o spleen, a angústia existencial, a náusea e o absurdo. Termino o mês com mais um contributo decisivo para a compreensão do mundo em que vivemos.

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