Por
vezes, há períodos da vida em que esta parece um intervalo. São vividos na
expectativa de chegar a hora em que tudo é mais sério, mais decisivo. Quando,
porém, chega essa hora, descobre-se que a energia foi consumida pela
expectativa. Os intervalos são muito mais cansativos do que se supõe. Sei
disto, continuou o padre Lodo, não apenas por experiência própria. O
confessionário é um lugar de grande aprendizagem. Pensava, respondi, que os
padres esqueciam o que ouviam, mal acabavam a função de confessores. Afinal, as
confissões são motivo de meditação e aprendizagem, acrescentei. O padre Lodo
riu-se. Não podemos apagar a memória, apenas temos o dever de estar calados. Um
dever de silêncio, o que não é pequena provação para muitos. Passa-se alguma
coisa? A minha pergunta foi recebida com um curto silêncio, depois ouvi um
porquê. Porque só costuma ligar ao fim-de-semana e ainda estamos a meio da
semana. É verdade toda a gente está presa nos hábitos, ninguém escapa.
Apeteceu-me ligar hoje, disse ele. Talvez esteja num daqueles tempos de
intervalo e sinto que isso é, na minha idade, ridículo. A única coisa séria e
decisiva que posso esperar é morrer. Não exagere, respondi. Não, não estou a
exagerar, ouvi. Na verdade, temo que a minha vida se tenha tornado um intervalo
até à hora em que deixe este mundo. Falta-me qualquer coisa, algo que seja mais
sério e decisivo. Talvez falte a todos, asseverei sem grande convicção. Talvez,
respondeu, também ele sem convicção. Desligou sem me perguntar pelos netos. Fiquei
preocupado.
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