Aqui estou eu, obediente, à espera. Recebi um SMS de uma transportadora
que me informa – talvez me avise, não sei bem – que a encomenda com a referência
tal será hoje entregue entre as 15:30 e as 16:30. Enviaram-me um código que
deverei facultar a quem me entregar aquilo de que estou à espera. Antecipei a
ida à farmácia, de modo a estar bem antes das 15:30 em casa e, neste momento,
já passam das dezassete horas. Ainda não consegui facultar o código a ninguém e
persisto neste acto de espera. Ainda sugeri, a quem fiz a encomenda, que a
enviasse para um ponto de recolha. Seria tudo mais fácil. Decidiram, porém, que
estava na altura de testarem a minha paciência e decidiram o contrário do que
tinha sugerido, aliás em resposta a uma pergunta que me foi feita. Talvez
Portugal seja um país difícil. Por que razão fazem perguntas, se não estão dispostos
a ouvir a resposta? Por que motivo estipulam horas que jamais hão-de cumprir? Tenho
uma teoria. Esta coisa de fazer perguntas ao cliente ou de estipular horários
com algum rigor é uma cobertura de modernização importada do estrangeiro, daqueles
sítios em que os clientes são pessoas a ser estimadas e os horários são para
cumprir, caso contrário isso tem consequências negativas. Como por aqui não há
qualquer consequência, os velhos costumes dum país saído há pouco da Idade
Média rompem com enorme facilidade aquela finíssima capa de verniz com que se
esconde a autocomplacência perante si e o desprezo pelo outro. Continuo à
espera. Precisava de sair, mas se não receber hoje a encomenda, no caso de a
virem entregar, vai ser o cabo dos trabalhos para que me chegue às mãos. Continuo
com o código e não tenho a quem o faculte.
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