terça-feira, 1 de outubro de 2024

Um código por facultar

Aqui estou eu, obediente, à espera. Recebi um SMS de uma transportadora que me informa – talvez me avise, não sei bem – que a encomenda com a referência tal será hoje entregue entre as 15:30 e as 16:30. Enviaram-me um código que deverei facultar a quem me entregar aquilo de que estou à espera. Antecipei a ida à farmácia, de modo a estar bem antes das 15:30 em casa e, neste momento, já passam das dezassete horas. Ainda não consegui facultar o código a ninguém e persisto neste acto de espera. Ainda sugeri, a quem fiz a encomenda, que a enviasse para um ponto de recolha. Seria tudo mais fácil. Decidiram, porém, que estava na altura de testarem a minha paciência e decidiram o contrário do que tinha sugerido, aliás em resposta a uma pergunta que me foi feita. Talvez Portugal seja um país difícil. Por que razão fazem perguntas, se não estão dispostos a ouvir a resposta? Por que motivo estipulam horas que jamais hão-de cumprir? Tenho uma teoria. Esta coisa de fazer perguntas ao cliente ou de estipular horários com algum rigor é uma cobertura de modernização importada do estrangeiro, daqueles sítios em que os clientes são pessoas a ser estimadas e os horários são para cumprir, caso contrário isso tem consequências negativas. Como por aqui não há qualquer consequência, os velhos costumes dum país saído há pouco da Idade Média rompem com enorme facilidade aquela finíssima capa de verniz com que se esconde a autocomplacência perante si e o desprezo pelo outro. Continuo à espera. Precisava de sair, mas se não receber hoje a encomenda, no caso de a virem entregar, vai ser o cabo dos trabalhos para que me chegue às mãos. Continuo com o código e não tenho a quem o faculte.

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