Não devia escrever estas coisas aqui, mas não resisti a citar um texto de um homem político que, noutros tempos, inflamou o coração de jovens fogosos, mas que não encontravam quem lhes apagasse o fogo. Espero do autor destes textos e proprietário do blog a caridade da indulgência para com este quase fiel narrador. O homem político é Mao Tse-Tung, alguém que escreveu coisas (sic) com títulos extraordinários, como Uma simples faísca pode pegar fogo a toda a pradaria. Imagino que fosse isso que atraísse os jovens fogosos do Ocidente, que viram nele um deus, que, sabemos hoje, era um deus que não passava de um tigre de papel, uma adaptação de outro título do mesmo homem forte da China, o célebre O imperialismo americano é um tigre de papel. Ora, aquilo que prendeu a minha atenção, foi um título mais prosaico, Conversa sobre questões de filosofia. O texto começa da melhor maneira: Só quando há luta de classes pode haver filosofia. É uma perda de tempo discutir epistemologia à parte da prática. Os camaradas que estudam filosofia deviam ir para o campo. Deviam ir para lá este Inverno ou na Primavera que vem para participarem na luta de classes. Os que não estão bem de saúde também deviam ir. Ir lá não mata ninguém. O mais que lhes acontece é apanharem uma constipação, e se se agasalharem bem não há problema. Não sei a razão, mas isto fez-me lembrar o nosso actual Presidente da República, numa daquelas declarações que faz quando vai ao multibanco ou decide ir comer um gelado. Deixemos, porém, as analogias de lado, pois são sempre enganadoras. Há nestas declarações duas coisas extraordinárias. A primeira liga-se à questão filosófica. Para compreender o racionalismo de Descartes, o empirismo de Locke e Hume ou o transcendentalismo de Kant, não há nada melhor do que ir para o campo, embora, imagino eu, o campo nunca tenha inspirado qualquer teoria epistemológica. A outra coisa é que os camaradas que estudam filosofia – por certo, um equívoco – deviam ir para o campo, não para trabalhar no campo, mas para participarem na luta de classes. Eram coisas destas que incendiavam imaginações no Ocidente, o que é compreensível. Uma razão sensata logo descobriria a infantilidade destas ideias. Só a imaginação, talvez sob efeito de algum psicotrópico, veria nelas um futuro radioso para a humanidade. Ou talvez aquilo que maravilhasse a juventude europeia dos anos sessenta e setenta do século passado fosse o cuidado que o grande timoneiro – era assim conhecido o homem político em causa – tinha com a saúde dos doentes e o agasalho dos friorentos.
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