quarta-feira, 25 de junho de 2025

Na mesoguarda

Podia ter sido mais um dia glorioso para a minha gesta – mas não foi. A causa? Uma noite de insónia. Quando me levantei para ir tratar de assuntos que a vida me colocou pela frente, percebi que a principal tarefa seria segurar as pálpebras, para que não se fechassem em algum momento inconveniente. Se se fecharem agora, ninguém quer saber. Aliás, é coisa que elas estão a tentar fazer. Resisto como posso, embalado pela música produzida pelos dedos ao chocarem contra as teclas. Sim, é uma composição musical contemporânea. De vanguarda. As vanguardas perderam o brilho de outros tempos. Ninguém quer saber de vanguardistas. Eles que se atolem no futuro – onde chegarão antes de nós. É isto que significa ser de vanguarda: atolar-se no pântano do futuro antes dos outros. Não se pense que sou retaguardista. Não sou. O meu lugar é no meio – na mesoguarda –, na perfeita equidistância dos que correm para diante e dos que correm para trás. No meio está a virtude da imobilidade. Sou um homem virtuoso – mas a cair de sono.

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